terça-feira, 16 de agosto de 2011

Parabéns, Charles Bukowski!

    A obra do velho Buk não foi feita para ser explicada. Você tem que sentir tudo que está sob suas palavras, sob cada frase tragicômica, obscena, escatológica, profunda e reflexiva.

   Já li muito do que este homem ímpar, bêbado e lúcido ao mesmo tempo, escreveu. Além disso, me identifico muito com a visão de mundo e das pessoas que tinha Bukowski, cujos livros, afortunadamente, me foram apresentados pelo Alexandre.

   Se vivo, esse escritor completaria hoje 91 anos. Certamente, estaria produzindo muito ainda, pois seu último livro foi concluído pouco antes dele morrer em 1994. Em toda sua vida, ele escreveu mais de 50 livros.

    Eu indicaria três destes livros para quem quiser iniciar um contato com a obra de Bukowski:


 Misto Quente

(Título Original: Ham on Rye) 

É um romance auto-biográfico, que revela muito da vida do autor através do personagem principal - Henry Chinaski - desde a infância até a juventude. Quem ler, vai querer ler de novo e, certamente, buscará conhecer mais livros do escritor.


  

 O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio

(Título original: Captain is out to lunch and the sailors have taken the ship)

Contém trechos de diário de Bukowski, selecionados por ele próprio dias antes de morrer. Neste livro, ele comenta episódios do cotidiano, fazendo reflexões filosóficas sobre a vida, sobre a natureza e miséria humanas.


* Nota: a editora L&PM publicou diversos livros de Charles Bukowski na coleção "Pocket".
 




E a biografia:
Charles Bukowski - Vida e loucuras de um velho safado

de Howard Sounes

Completíssima, com muitas fotos, depoimentos e toda a informação que o autor obteve através de contato com parentes e acesso à correspondência pessoal do escritor.
(Este livro está esgotado. Considere-se uma pessoa de sorte se você conseguir um exemplar).





Selecionei também dois trechos que acho simplesmente admiráveis.

    De Misto Quente:

    "Eu podia ver a estrada à minha frente. Eu era pobre e ficaria pobre. Mas eu não queria particularmente dinheiro. Eu sequer sabia o que desejava. Sim, eu sabia. Queria alguma lugar para me esconder. Um lugar onde ninguém tivesse que fazer nada. O pensamento de ser alguém na vida não apenas me apavorava como me deixava enojado. Pensar em ser um advogado, um professor ou um engenheiro, qualquer coisa desse tipo, parecia-me impossível. Casar, ter filhos, ficar preso a uma estrutura familiar. Ir e retornar de um local de trabalho todos os dias. Era impossível. Fazer coisas, coisa simples, participar de piqueniques em família, festas de Natal, 4 de Julho, Dia do Trabalhador, Dia das Mães...afinal, é pra isso que nasce um homem, para enfrentar essas coisas até o dia de sua morte? Preferia ser um lavador de pratos, voltar para a solidão de um cubículo e beber até dormir."

    E este é de Hollywood:

  "Muitas vezes, diante de seres humanos bons e maus igualmente, meus sentidos simplesmente se desligam, se cansam, eu desisto. Sou educado. Balanço a cabeça. Finjo entender, porque não quero magoar ninguém. Este é o único ponto fraco que tem me levado à maioria das encrencas. Tentando ser bom com os outros, muitas vezes tenho a alma reduzida a uma espécie de pasta espiritual. Deixa pra lá. Meu cérebro se tranca. Eu escuto. Eu respondo. E eles são broncos demais para perceber que não estou mais ali."

    Magistral, não?

A companhia ideal para um escritor que se preze: ele apreciava demais os gatos.
    Hoje à noite, beberemos um bom vinho em homenagem ao mestre, com votos de que surjam outros escritores do quilate dele.

    Um brinde a Charles Bukowski!

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