Num sábado de férias, depois de alguns anos longe, retornei à cidade de Rio Pardo para almoçar, comprar algumas coisas e dar uma caminhada pela rua principal. Não havia levado câmera fotográfica, mas estava com o celular, caso decidisse fotografar algo.
E a primeira coisa que quis ver foi a sacadinha do sobrado que fica na esquina da rua João Pessoa – rua da antiga rodoviária – para captar a imagem da Barbearia Sevilha, estabelecimento que, por motivos óbvios, sempre me fez lembrar da famosa ópera e sua conhecida música. Quem não conhece? Mesmo os não apreciadores já escutaram pelo menos uma vez na vida o fígaro. Porém, surpresa: não havia mais a plaquinha indicativa da barbearia. E o sobrado? Está sendo reformado, fato que me deixou feliz, já que na última vez que estive na cidade o estado dos casarões não era dos melhores. Restava a dúvida: será que ainda existiria a tal barbearia? Imagino... Não! Quase posso ver o barbeiro, um senhor de cabelos brancos, navalha na mão, jaleco impecável, e o salão com sua cadeira à moda antiga... Foi melhor não ter ido conferir se está lá ou não. Farei de conta que sim. Sei que em alguma dimensão de tempo e espaço a Barbearia Sevilha ainda resiste.
Seguindo a caminhada, passei em frente à loja que tem outro nome atrativo: Papelaria Dactilus. Não sei bem que de "latim" e “grego” esse nome traz a minha mente, mas sempre o liguei à “Lanterna de Diógenes”, da obra O Tempo e o Vento, de Erico Verissimo. Assim como a livraria da fictícia cidade de Santa Fé, a “Dactilus” de Rio Pardo só podia mesmo pertencer a uma cidade antiga, com cheiro de História e velhas estórias. E se eu entrasse e, tal qual Floriano Cambará, pedisse um caderno de pauta simples? Devaneios... Coisas de quem tem a mente repleta de associações literárias!
Subindo mais um pouco a rua Andrade Neves, parei em frente à rua da Ladeira e ao Solar Panatieri, que atualmente está à venda. Uma casa de esquina, grande e cor-de-rosa, testemunha de muito do que a cidade tem vivido. Ao longe, eu podia ver as torres da igreja matriz recortadas contra o céu azul de fevereiro. Meu espírito contemplativo queria ficar por ali, admirando aquela paisagem antiga e, imaginando cenas do passado, recuar cinquenta, cem anos no tempo. Mas, o meu tempo urgia, e eu precisava ir embora.
Solar Panatieri |
Há algo nessa pequena cidade que me atrai. Talvez o fato dos meus antepassados da linhagem materna terem nascido e crescido lá (e nos campos de seu interior). Ou por ter apenas boas lembranças vividas nela. Suas ruas antigas, calçadas estreitas, o casario erguido em um tempo distante... Seja como for, Rio Pardo guarda para mim, o charme das fotografias em sépia. Um charme avoengo e desbotado, é verdade. Mas que, justamente por isso, guardamos bem e com carinho, como uma relíquia preciosa da qual não queremos nos desfazer.
Também do passado: em 2006, na rua da Ladeira |
Um pouco mais sobre o Solar: http://www.correiodopovo.com.br/Noticias/543344/Predio-historico-e-colocado-a-venda-em-Rio-Pardo