quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Encomenda de Matrícula UFRGS

    Passados os festejos de Momo é hora de começar a levar a vida a sério e encarar que o ano começou de verdade. Pois bem, um dos lembretes de que devemos voltar a realidade é o início do processo de matrícula para o próximo semestre da UFRGS.

    Tudo começa com a “encomenda da matrícula”, onde o aluno escolhe as disciplinas que irá cursar e tenta selecionar os horários que melhor se encaixam a sua rotina. Importantíssimo também é que, nessa etapa e de acordo com informações colhidas previamente com veteranos, fazemos o possível para escolher os melhores professores e escapar daqueles cuja fama os precede.

    Numa segunda e terceira etapas – ajuste da encomenda e matrícula de ajuste – existe a possibilidade de tentar novamente turmas com as quais não fomos contemplados ou pegar vaga em outras turmas/horários/professores.


    Bom, mas a partir de hoje, 23/02, até o dia 27/02, os alunos devem fazer a encomenda da matrícula. Por ter certa experiência nisso eu já estava planejando meus horários há dias. Tudo na mão porque a UFRGS só liberou a grade de horários ontem (22/02). Selecionei minhas disciplinas e obtive nada menos que 121 opções de horários. Corta um professor aqui, um horário acolá e sobraram ainda 30 opções. Como pretendo manter minha bolsa na PG pelo menos no primeiro semestre, tive que fazer mais alguns cortes e fiquei com 6 opções de horários. Ufa!

    As disciplinas selecionadas foram:

- Conceitos Básicos de Lingüística;
- Elementos de Latim I;
- Inglês I;
- Leituras Orientadas I;
- Literatura Brasileira A.

    Ao todo são 22 créditos, bem distribuídos  pelos cinco dias da semana.  Feita a encomenda, resta agora torcer para que dê tudo certo e eu consiga vaga nas turmas que solicitei. Caso contrário, vou ter que repensar algumas escolhas, selecionar outras turmas e ver no que vai dar.

    E você, caro colega da UFRGS, especialmente do curso de Letras, já fez sua encomenda de matrícula? ;)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Um texto sobre GATOS

    Quem me conhece sabe que sou uma admiradora dos felinos. São animais fascinantes, inteligentes, finos e, sem dúvida, muito companheiros. Ao contrário do que alguns (ou muitos) imaginam o gato é, sim, um ótimo bichinho de estimação - para mim um membro da família - mas somente para pessoas sensíveis o bastante para entrar em sintonia com ele. Não é à toa que temos aqui em casa cinco felinas maravilhosas, cada uma com uma personalidade única. Sem exagero, posso dizer que tanto eu quanto o Alexandre, somos apaixonados pelas nossas gatas. Oferecemos o que há de melhor a elas, tanto em cuidados quanto em atenção, carinho e respeito.

    Mas, o que isso tem a ver com o blog? Bom, se falo aqui - entre outras coisas - de escritores, livros e afins, nada mais justo do que publicar este belo texto, escrito por Artur da Távola (1936-2008), advogado, jornalista, radialista, escritor, professor e político brasileiro e, evidentemente, também um profundo admirador dos felinos.

    Boa leitura!

Simplesmente gatos
Artur da Távola
  
    Bichos polêmicos sem o querer, porque sábios, mas inquietantes, talvez por isso... Nada é mais incômodo que o silencioso bastar-se dos gatos. O só pedir a quem amam. O só amar a quem os merece.

    O homem quer o bicho espojado, submisso, cheio de súplica, temor, reverência, obediência. O gato não satisfaz as necessidades doentias do amor. Só as saudáveis.

    Lembrei, então, de dizer, dos gatos, o que a observação de alguns anos me deu.

    Quem sabe, talvez, ocorra o milagre de iluminar um coração a eles fechado?

    Quem sabe, entendendo-os melhor, estabelece-se um grau de compreensão, uma possibilidade de luz e vida onde há ódio e temor? Quem sabe São Francisco de Assis não está por trás do Mago Merlin, soprando-me o artigo?

    Já viu gato amestrado, de chapeuzinho ridículo, obedecendo às ordens de um pilantra que vive às custas dele? Não! Até o bondoso elefante veste saiote e dança a valsa no circo. O leal cachorro no fundo compreende as agruras do dono e faz a gentileza de ganhar a vida por ele. O leão e o tigre se amesquinham na jaula.

    Gato não. Ele só aceita uma relação de independência e afeto. E como não cede ao homem, mesmo quando dele dependente, é chamado de arrogante, egoísta, safado, espertalhão ou falso.

    "Falso", porque não aceita a nossa falsidade com ele e só admite afeto com troca e respeito pela individualidade. O gato não gosta de alguém porque precisa gostar para se sentir melhor. Ele gosta pelo amor que lhe é próprio, que é dele e ele o dá se quiser.

    O gato devolve ao homem a exata medida da relação que dele parte. Sábio e espelho. O gato é zen. O gato é Tao. Ele conhece o segredo da não-ação que não é inação. Nada pede a quem não o quer. 

    Exigente com quem ama, mas só depois de muito certificar-se. Não pede amor, mas se lhe dá, então ele exige.

    Sim, o gato não pede amor. Nem depende dele. Mas, quando o sente é capaz de amar muito. Discretamente, porém sem derramar-se. O gato é um italiano educado na Inglaterra. Sente como um italiano mas se comporta como um lorde inglês.

    Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não transa o gato. Ele aparece, então, como ameaça, porque representa essa relação precária do homem com o (próprio) mistério. O gato não se relaciona com a aparência do homem. Ele vê além, por dentro e pelo avesso. Relaciona-se com a essência.

    Se o gesto de carinho é medroso ou substitui inaceitáveis (mas existentes) impulsos secretos de agressão, o gato sabe. E se defende do afago. A relação dele é com o que está oculto, guardado e nem nós queremos, sabemos ou podemos ver. Por isso, quando surge nele um ato de entrega, de subida no colo ou manifestação de afeto, é algo muito verdadeiro, que não pode ser desdenhado. É um gesto de confiança que honra quem o recebe, pois significa um julgamento.

    O homem não sabe ver o gato, mas o gato sabe ver o homem. Se há desarmonia real ou latente, o gato sente. Se há solidão, ele sabe e atenua como pode (ele que enfrenta a própria solidão de maneira muito mais valente que nós). Se há pessoas agressivas em torno ou carregadas de maus fluidos, ele se afasta.

    Nada diz, não reclama. Afasta-se. Quem não o sabe "ler" pensa que "ele não está ali”. Presente ou ausente, ele ensina e manifesta algo. Perto ou longe, olhando ou fingindo não ver, ele está comunicando códigos que nem sempre (ou quase nunca) sabemos traduzir.

    O gato vê mais e vê dentro e além de nós. Relaciona-se com fluidos, auras, fantasmas amigos e opressores. O gato é médium, bruxo, alquimista e parapsicólogo. É uma chance de meditação permanente a nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério. O gato é um monge portátil à disposição de quem o saiba perceber.

    Monge, sim, refinado, silencioso, meditativo e sábio monge, a nos devolver as perguntas medrosas esperando que encontremos o caminho na sua busca, em vez de o querer preparado, já conhecido e trilhado. O gato sempre responde com uma nova questão, remetendo-nos à pesquisa permanente do real, à busca incessante, à certeza de que cada segundo contém a possibilidade de criatividade e de novas inter-relações, infinitas, entre as coisas.

    O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel. Suas manifestações são íntimas e profundas. Exigem recolhimento, entrega, atenção. Desatentos não agradam os gatos. Bulhosos os irritam. Tudo o que precise de promoção ou explicação, quer afirmação. Vive do verdadeiro e não se ilude com aparências. Ninguém em toda natureza aprendeu a bastar-se (até na higiene) a si mesmo como o gato!

    Lição de sono e de musculação, o gato nos ensina todas as posições de respiração ioga. Ensina a dormir com entrega total e diluição recuperante no Cosmos. Ensina a espreguiçar-se com a massagem mais completa em todos os músculos, preparando-os para a ação imediata. Se os preparadores físicos aprendessem o aquecimento do gato, os jogadores reservas não levariam tanto tempo (quase 15 minutos) se aquecendo para entrar em campo.

    O gato sai do sono para o máximo de ação, tensão e elasticidade num segundo. Conhece o desempenho preciso e milimétrico de cada parte do seu corpo, a qual ama e preserva como a um templo.

    Lição de saúde sexual e sensualidade. Lição de envolvimento amoroso com dedicação integral de vários dias. Lição de organização familiar e de definição de espaço próprio e território pessoal. Lição de anatomia, equilíbrio, desempenho muscular. Lição de salto. Lição de silêncio. Lição de descanso. Lição de introversão. Lição de contato com o mistério, com o escuro, com a sombra. Lição de religiosidade sem ícones. Lição de alimentação e requinte. Lição de bom gosto e senso de oportunidade.  Lição de vida, enfim, a mais completa, diária, silenciosa, educada, sem cobranças, sem veemências, sem exigências.

    O gato é uma chance de interiorização e sabedoria posta pelo mistério à disposição do homem.
 
The ladies of the house